quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Vale duplica ferrovia e multiplica violações no Maranhão e Pará

Revista Caros Amigos - Edição dezembro/2011

Em reportagem especial, a jornalista Tatiana Merlino retrata os danos ambientais e sociais causados pela mineradora VALE, nos estados do Maranhão e do Pará. Privatizada em 1997, a ex-estatal Companhia Vale do Rio Doce deu um salto no mundo privado e é hoje uma das maiores do mundo – graças principalmente à voracidade com que tem sugado os recursos naturais do Brasil para abastecer os mercados internacionais.
A VALE é tão importante para estados e municípios que a grande maioria das autoridades fecha os olhos diante dos danos causados pela empresa, não apenas a super-exploração dos minérios,mas também o desprezo com que trata pessoas e cidades que se encontram no seu caminho. É o que acontece com a duplicação da ferrovia da VALE – cujo projeto tem provocado as mais bárbaras violações dos direitos sociais e humanos.

Trecho extraído da matéria:

Lucinete* aproxima-se de um homem sentado em uma cadeira de plástico, que, acompanhado de uma jovem, toma cerveja.
– Oi, tudo bem? Você não me ligou... Por quê? – questiona ela.
Não é possível ouvir a resposta.
“Combinamos de ele me ligar amanhã ao meiodia para a gente sair”, conta Lucinete ao voltar, sorrindo. O homem aparenta ter entre 50 e 55 anos, e, embora esteja com uma moça ao seu lado, a quem acaricia e beija, lança muitos olhares para o corpo de Lucinete. A adolescente de 16 anos veste uma calça jeans justa, mini-blusa vermelha, também colada ao corpo, batom vermelho e pintura forte nos olhos.
Como Lucinete, várias outras meninas circulam pelo local, numa noite de sábado do mês de outubro. O figurino é o mesmo: roupinhas justas, curtas, brilhantes, maquiagem no rosto, salto alto, unhas pintadas, cabelo arrumado. A casa de baile de Bom Jesus das Selvas, município localizado no oeste do Maranhão, é o ponto de encontro da cidade, a balada onde jovens, e nem tão jovens, encontram-se para beber, dançar e confraternizar. É ali que também ocorrem os encontros de meninas pobres da cidade com os funcionários das empresas que chegaram a partir de 2010, entre elas a Norberto Odebrecht. Na cidade, a construtora instalou um de seus canteiros de obras para a duplicação de 605 dos 892 quilômetros da Estrada de Ferro Carajás (EFC), concessionária da transnacional mineradora Vale (os quilômetros restantes já foram duplicados e hoje servem de pátios de cruzamento).
A duplicação faz parte de um pacote de cerca de 7,8 bilhões de dólares até 2014 e atenderá o maior projeto da história da empresa e também o maior da indústria de minério de ferro do mundo: o S11D, que será implantado na Serra Sul de Carajás, em Canaã dos Carajás, Pará.
Para atender à iniciativa, a mineradora também construirá um ramal ferroviário de 100 quilômetros ligando a mina de Canaã dos Carajás à EFC, em Parauapebas, e um quarto píer no Terminal Marítimo de Ponta da Madeira, na capital São Luís, no litoral maranhense. O projeto aumentará a capacidade de produção de minério dos atuais 100 milhões de toneladas ao ano, em 2010 para 230 milhões, em 2015.
Tal aporte pode ser explicado pela pesquisa da Global Industry Analysts (GIA), que aponta que até 2015 o consumo mundial de minério de ferro deve atingir 1,7 bilhão de toneladas ao ano, aumento de 70% em relação a 2010. O aumento no consumo é impulsionado pelo crescimento da economia de países emergentes, em especial a China.