sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Vale vence prêmio de pior empresa do mundo

A transnacional brasileira Vale conquistou o primeiro lugar no 'Nobel' da vergonha corporativa no Public Eye Awards, que elege por voto popular a pior empresa do mundo em questões ambientais, sociais e trabalhistas. O prêmio foi criado pelo Greenpeace Suíça e Declaração de Berna e o vencedor é sempre revelado durante o Fórum Econômico Mundial, aberto nesta semana em Davos, na Suíça.
A Vale disputou o primeiro lugar com a japonesa Tepco, envolvida no desastre nuclear de Fukushima, mas superou a usina com um total de 25.041 votos. Para as entidades que indicaram a Vale ao prêmio - a Articulação Internacional dos Atingidos pela Vale, representada no Brasil pela Rede Justiça nos Trilhos, e as ONGs Amazon Watch e Xingu Vivo para Sempre -, o fato de a Vale ser uma multinacional presente em 38 países e com impactos espalhados pelo mundo, ampliou o número de votantes.
Para os organizadora do Public Eye, um fator determinante para a entrada da Vale na disputa entre as piores foi a adesão em 2010 no Consórcio Norte Energia, que constrói a usina de Belo Monte, no Rio Xingu.
“Para as milhares de pessoas, no Brasil e no mundo, que sofrem com os desmandos desta multinacional, que foram desalojadas, perderam casas e terras, que tiveram amigos e parentes mortos nos trilhos da ferrovia Carajás, que sofreram perseguição política, que foram ameaçadas por capangas e pistoleiros, que ficaram doentes, tiveram filhos e filhas explorados, foram demitidas, sofrem com péssimas condições de trabalho e remuneração e tantos outros impactos, conceder à Vale o título de pior corporação do mundo é muito mais que vencer um prêmio. É a chance de expor aos olhos do planeta seus sofrimentos e trazer centenas de novos atores e forças para a luta pelos seus direitos e contra os desmandos cometidos pela empresa”, afirmaram representantes das entidades que encabeçaram a campanha contra a mineradora.
As demais vencedoras foram a Tepco (24.245 votos), Samsung (19.014 votos), Barclays (11.107), Syngenta (6.052) e Freeport (3.308), empresa que atua na Papua e é acusada de torturar e matar os que levantam suas vozes contra seus abusos.
Com informações do Movimento Xingu Vivo para Sempre e Public Eye Awards

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Pouco se falou de um outro  relatório, divulgado no mesmo dia em Davos pela organização Amigos da Terra, que traz mais informações sobre a atuação da empresa. O documento tem oito páginas, mas aqui vai um resumo das principais informações:
- Em 2008, a Vale declarou sua intenção de reduzir suas emissões de carbono. Ao invés disso, em 2010, emitiu 20 milhões de toneladas de CO², um aumento de um terço em relação aos níveis de 2007 (de 15 milhões de toneladas de CO²).
- Segundo o relatório, a empresa conta com representantes na delegação oficial do governo para as Nações Unidas e é uma das empresas que têm exercido pressão para minar (perdão pelo trocadilho) políticas globais de combate ao aquecimento global.
- O texto menciona também a Companhia Siderúrgica do Atlântico (TKCSA), no Rio de Janeiro. Segundo a Amigos da Terra, a atividade no complexo de produção de aço elevou as emissões do estado em 76%. “O projeto comprometeu severamente o sustento de oito mil pescadores da baía de Sepetiba e a companhia foi denunciada por crimes ambientais”, disse Lucia Ortiz, da Amigos da Terra Internacional.

- No caso da mina de carvão Moatize, em Moçambique, a mineradora brasileira é criticada por ter realocado 1.300 famílias em áreas com difícil acesso à água, energia e terras aráveis, em casas em mau estado de conservação. A mina de Moatize começou a ser explorada no ano passado e é considerada uma das maiores reservas de carvão do mundo. “Membros das comunidades locais foram ameaçados e perseguidos e estes relatos são apenas a ponta do iceberg”, afirmou Daniel Ribeiro, do escritório local da organização Amigos da Terra.
Para rebater o troféu indesejado e as informações da Amigos da Terra, a Vale criou uma página na internet. Nela, a empresa afirma que, ciente de que a atividade mineradora gera impacto, a empresa “atua de forma a controlá-los e reduzi-los”.
Também divulgou que investirá, este ano, a quantia de US$ 1,65 bilhão em ações socioambientais.
No site, podem ser encontradas informações correspondentes a algumas das críticas feitas no relatório da Amigos da Terra. Outras, porém, como a relacionada ao empreendimento no Rio de Janeiro, ficam sem resposta. A assessoria de imprensa da Vale afirmou que a empresa não se manifestará sobre o relatório.

Clarice Couto é editora-assistente de Época NEGÓCIOS

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