Maria Geneuci da Silva Santos [1]
RESUMO:
Propus-me socializar neste texto alguns conhecimentos adquiridos no processo de formação ao longo do curso de Especialização em Educação Ambiental, Cidadania e Desenvolvimento Regional, de forma mais precisa ainda que possua lacunas na disciplina Teoria e Prática da Educação Ambiental Crítica, desenvolvida sob a docência do Professor Dr. Marcos Sorrentino, da USP. Compreendo a partir dessa disciplina que o conhecimento não é algo pronto e acabado, e que este deverá ser construindo de forma coletiva, reflexiva e dialógica.
Educação Ambiental deverá ser pensada de forma crítica e emancipatória, promovendo a mudança de hábitos, valores e atitudes sociais e ambientais, na perspectiva de construir uma sociedade justa, solidária, ética e politicamente coerente com os princípios da sustentabilidade como descreve Leonardo Boff no seu livro HOMEM: Satã ou Anjo Bom? Ou ainda Paulo Freire em Educação como prática da liberdade.
Palavras Chave: Educação Ambiental Crítica, Liberdade, Dialogo e Sociedade e Natureza.
Para fazer esta importante reflexão tomo como base as aulas do professor Marcos Sorrentino (*) na disciplina Teoria e Prática da Educação Ambiental Crítica. Nestas aulas o professor evidenciou uma prática pedagógica crítica que contrapõe às velhas metodologias de ensino pautadas na mera decodificação e reprodução de conteúdos.
Ficou claro que o propósito da disciplina era de promover o diálogo horizontal crítico sobre as questões socioambientais e a integração de todos os sujeitos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem. Fazendo deste processo pedagógico mecanismo de mudança de concepção educacional e de mundo, tendo em vista, que,
O século passado foi marcado pelo desenvolvimento e progresso a qualquer preço. O cume de um processo que vinha sendo construído há pelo menos 500 anos no projeto de modernidade da humanidade européia ocidental, que a tudo simplifica e consome. Mas hoje é imperativo aprender-se com tais acontecimentos e construir alternativas que valorizem a diversidade e possibilitem a inclusão de bilhões de humanos e projetos de humanidade hoje marginalizados e em situação de sofrimento e dificuldades de sobrevivência (Sorrentino, Novatitude, SD p.8).
Esta notação pressupõe a necessidade de haver mudanças nas relações sociais e nas relações humanas com a natureza, as quais se darão interligadas ao processo educativo, dentro e fora dos espaços escolares. Visto que essas relações implicam fundamentalmente nas condições existenciais da humanidade.
Para tanto, acredito que se faz necessário neste século XXI uma reorganização política, econômica e educacional pautada na construção de valores éticos coerentes com uma sociedade justa e solidária. Que permita a liberdade e a criticidade dos sujeitos de forma horizontal. Nesta perspectiva se torna indispensável à necessidade de se construir uma nova forma de vivência humana e assim de educação e ainda da reconstrução dos modos de produção e reprodução social que historicamente determinou as relações sociais e ambientais neste planeta. Embora tais modos de produção tivessem promovido avanços tecnológicos, estes provaram a incapacidade de conciliar desenvolvimento econômico com equilíbrio ambiental e social, muito pelo contrário, na medida em que surgem novas tecnologias aumenta o descompasso entre a lógica de desenvolvimento exercida pelo capital e os anseios de se construir uma sociedade sustentável. O que justifica que se faz urgente a reformulação desse modelo político-econômico,
Conseqüentemente, uma reformulação significativa da educação é inconcebível sem a correspondente transformação do quadro social no qual as práticas educacionais da sociedade devem cumprir as suas vitais e historicamente importantes funções de mudanças (MÊSZAROS, 2005 p. 25)
Este olhar sobre as práticas educativas e assim sobre o papel que esta deverá desempenhar na sociedade justifica a necessidade de se romper com a lógica mercantilista da educação e das relações sociais, como diz MÊSZAROS 2005 “é necessário romper com a lógica do capital se quisermos contemplar a criação de uma alternativa educacional significativamente diferente”. O que não significa que estas mudanças deverão ocorrer de forma verticalizada ou linear, mas deverá ser prioritariamente um processo reflexivo critico coletivo transformador entre teoria e prática.
As vivências e reflexões nesta disciplina culminaram na compreensão de que é possível educar com práticas de liberdade e construir através da reflexão crítica, novos valores sociais e ambientais. As aprendizagens desenvolvidas neste contexto de interação entre educador e educando, educando e conteúdo, educando e educando, possibilitou a ressignificação de conceitos, valores e saberes historicamente construídos.
Para tal abordagem emprego o pensamento do educador Paulo Freire, quando enfatiza que,
A visão de liberdade tem nesta pedagogia uma posição de relevo. É a matriz que atribui sentido a uma prática educativa que só pode alcançar efetividade e eficácia na medida da participação livre e crítica dos educandos (2002 p. 13).
A liberdade exercida no processo de ensino e aprendizagem em todas as atividades foi um elemento de extrema importância para o exercício das diversas experiências apresentadas no decorrer da disciplina. Além de promover reflexão coletiva e individual a partir da fundamentação teórica disponibilizada.
Vivenciamos na prática características de uma comunidade interpretativa, vista como possibilidade de se construir um diálogo horizontal, onde o conhecimento e seus significados são mutáveis e inacabados, os quais são alterados pela troca de experiências e contraposições no coletivo. Exige dos sujeitos envolvidos a coerência e transparência a respeito de suas intenções, crenças e valores sem perder a espontaneidade.
Nesta perspectiva a educação ambiental deve ser uma prática social que promova o diálogo e as diferentes interpretações sobre as questões socioambientais. O educador/educadora promove o desenvolvimento das capacidades argumentativas de forma horizontal, tendo como ponto de partida as perguntas que não almejam respostas prontas, mas que promova o debate com o que se conhece e dialoga com o novo conhecimento interpretado na discussão coletiva.
Compreender a educação ambiental como possibilidade de repensar as relações estabelecidas na sociedade e principalmente sobre seus efeitos, nos remete a ter clareza das diversas metodologias educacionais que promovam a reflexão – ação – reflexão num conjunto de planejamentos e encaminhamentos didático-político-pedagógicos. Tais metodologias deverão estar prioritariamente em consonância com um projeto social de mundo, que diverge do atual modelo.
Falar da educação ambiental numa perspectiva critica, é romper com a postura individualista de ensinar e aprender, é compreender que ambos os processos estão interligados e indissociáveis, logo aprendo quando ensino e ensino quando aprendo. Neste contexto o educador não é o único com a capacidade de diálogo e compreensão do mundo. E que não existe apenas um único espaço para aprendizagens, as quais se restringiram há séculos às salas de aulas.
Se analisarmos a história da educação veremos que escola historicamente foi vista como espaço privilegiado para as práticas educativas, e isso a responsabilizou pelo sucesso ou insucesso dos seus alunos dentro e fora dela. Tal responsabilidade limitou o papel da escola em apenas reproduzir conteúdos descontextualizados ou ineficazes às necessidades da maioria de seus alunos. Hoje vemos a urgência necessidade de fazer a educação acontecer de outra forma, não dar para continuar na mera reprodução de conteúdos.
A partir das análises e discussões realizadas em sala de aula, me dou conta de que não basta termos garantido a inclusão da Educação Ambiental apenas nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s), é preciso que as orientações educacionais façam parte do processo de formação continuada dos educadores de forma critica e reflexiva, garantido a regularidade das discussões e avaliação do processo de forma contínua. Os educadores precisam compreender a importância da necessidade de refletirem sobre os problemas socioambientais e suas práticas político-educacionais dentro e fora da escola. E ainda,
É importante que o professor trabalhe com o objetivo de desenvolver, nos alunos, uma postura critica diante da realidade, de informações e valores veiculados pela mídia e daqueles trazidos de casa. Para tanto, o professor precisa conhecer o assunto e, em geral, buscar junto com seus alunos mais informações em publicações ou com especialistas. Tal atitude representará maturidade de sua parte: temas da atualidade, em contínuo desenvolvimento, exigem uma permanente atualização; e fazê-lo junto com os alunos representa excelente ocasião de, simultaneamente e pela prática, desenvolver procedimentos elementares de pesquisa e sistematização da informação, medidas, considerações quantitativas, apresentação e discussão de resultados, etc. (PCN, 2001 p. 30)
Esta notação coloca o professor na condição de pesquisador e sistematizador de novos conhecimentos, o que não deverá acontecer de forma isolada ou sem propósito social. Mas não significa que tal atitude se desenvolve alheia ao projeto de ensino ou de sociedade. Por isso esse processo precisa ser alimentado pelo ideal de sociedade cultivado na continuidade da formação desses profissionais.
Quando nos damos conta disso, vemos brotar em todos os espaços a possibilidade de educar para a sustentabilidade, para compreensão do mundo e sua complexidade. Passamos acreditar que um novo mundo é possível ainda neste que vivemos, basta mudarmos nossos valores e atitudes para com o meio ambiente. As escolas não mais se isolam entre muros, fazem dos seus processos de educação um movimento político de transformação social e ambiental. Os educandos discutem seus problemas locais em consonância com os problemas globais, por ver na escola a sua importância social e ambiental.
Para concluir esta breve e ousada reflexão sobre a Educação Ambiental faço uso das palavras de Leonardo Boff quando descreve os quatro princípios da sustentabilidade, sendo eles: pathos/sensibilidade, cuidado/compaixão, a cooperação e a responsabilidade. Esses princípios básicos deverão fazer parte integradora das políticas públicas desenvolvidas na sociedade, e a Educação Ambiental na sua transversalidade e interdisciplinaridade deverá fazer parte dos diversos meios de formação de homens e mulheres desde o desenvolvimento da linguagem maternal.
4. REFERENCIAIS BIBLIOGRÁFICOS
BOFF, Leonardo. Homem: Satã ou Anjo Bom? Rio de Janeiro, Record, 2008.
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra,2002.
GADOTTI, Moacir. Educar para Sustentabilidade: uma contribuição á década da educação para o desenvolvimento sustentável. SP: Ed, L Instituto Paulo Freire, 2009.
MÊSZAROS, Istvá, 1930 – A educação para além do capital. São Paulo: Boitempo, 2005.
REVISTA. ambientalMENTEsustentable. Janeiro-dezembro de 2010. Ano V. Volume I, nº. 9-10.
Revista. CULT. Nº 138. SD. E Revista Novatitude. SD.
SANTOS, Maria Lúcia – A expressão livre no aprendizado da Língua Portuguesa – Pedagogia de Freinet. São Paulo: Spcione, 1991.
SPAZZIANI, Maria de Lurdes. & GONÇALVES, Marlene F. C. Construção do Conhecimento, Comunidades Interpretativas e Currículo. Ministério do Meio Ambiente, DF, Brasília, 2006.
[1] Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal do Pará (2006), Pós Graduanda da Especialização em Educação Ambiental, Cidadania e Desenvolvimento Regional na UFPA/Campos Marabá (2011), Coordenadora Pedagógica na Escola Municipal de E. F. Novo Horizonte, Parauapebas/Pa e Técnica em Educação –SEDUC/PA.
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